OM AMRITESHWARYAI NAMAH
Mais um passo. Concentro-me para convergir minhas experiências e a resposta de todo meu aprendizado, para tornar visíveis os últimos meses do meu caminho, trazer toda minha presença para a frente de minha face e conseguir fazer a pergunta em diferentes níveis. Nunca uma fila demorou tanto nos minutos ímpares e foi tão rápida nos pares. Estou de pé na rampa do lado esquerdo do palco, dividindo a mágica com as pessoas imediatamente a frente e atrás - sei que a resposta virá de uma forma inesperada, mas não sei ainda que na realidade, eu já perguntei. Observo uma águia cruzar o enorme hall, ajusto meu ainda inexistente dhoti e troco um sorriso com o cara logo atrás de mim. Eu também me sinto atraído, mas neste momento preciso focar.
Chego ao palco e percebo o brilho que não fui capaz de perceber no Brasil. Ele é ao mesmo tempo tão doce e tão intenso! Sua sábia força não se preocupa muito com a mente, atinge logo o coração. A mente vem depois, por pura osmose e entrega...
Ao me aproximar do centro do palco chego a um clímax em minha concentração: apenas para dar o próximo passo e, antes mesmo de me ajoelhar, ser surpreendido com um fato inédito: volto a ser a criança que fui a muitos anos atrás. De repente tudo o que adquiri e que me foi dado com esta mania de ser adulto se dissolve, e eu só quero a minha mãe. Não tenho mais perguntas, nem novas percepções sobre as nuvens, não tenho nem mesmo chakras...
As nuvens estavam mesmo estranhas, desde o Oriente Médio. Pouso no ensoralado estado de Kerala, mas mesmo aqui já parece existir este filtro de névoa entre a civilização e o universo. Penso que se isso for obra de chemtrails é melhor começar a importar cloud-busters rápido. Mas preciso ainda averiguar.
Pego um apertado ônibus e aprecio o colorido cenário das propagandas em malayalam entre tantos coqueiros até o famoso ashram rosa de Amritapuri. Atravesso o rio e ao me registrar na recepção dentro do templo, sou invadido pela shakti da Amma. O voluntário que faz o registro dos recém-chegados percebe meu estado sutilmente alterado (para melhor) (ou ainda, para menos louco) e pensa dentro de si: mais um filho resgatado.
Para aqueles que se perguntam como uma pobre garota de uma distante vila no sul da Índia é hoje conhecida em todo o mundo como Amma, a mãe de todos, é necessário entender que a maternidade não é limitada a ação de parir uma criança: ela é em último senso a definição de amor, compaixão e serviço. E se olharmos para a vida de Amma é isso que encontramos: alguém que dedica todos seus pensamentos, todas suas palavras e ações para o benefício dos outros.
É que quando uma outra nova casa é construída para desabrigados por uma de suas mais de 20 ONGs, nós a chamamos de humanitária. Quando novos devotos chegam de todos os cantos do planeta a procura de espiritualidade, nós a chamamos de guru. Quando um leproso é curado ao ter suas feridas lambidas por Amma, nós a chamamos de santa. Mas esta é apenas a atitude de alguém que entende que todos os outros são uma extensão de nós mesmos, e por isso escolhe dar a sua vida em serviço a toda a criação. É vivendo neste apogeu da existência humana que Amma está tentando acordar o mundo através de seus ensinamentos e de seus abraços.
Acima, uma das mais bonitas e mais desenvolvidas formas de consciência encarnadas hoje no planeta
Amma é primariamente conhecida como a santa dos abraços e já abraçou mais de 26 milhões de pessoas durante suas viagens por todos os continentes. A anos que eu tinha ouvido falar a seu respeito e foi a 13 meses antes de chegar em Amritapuri que finalmente a conheci:
FLASHBACK -- EXT . RIO DE JANEIRO - MANHÃ
A Rocinha brilha bonita e eu estaciono meu carro na frente da praia, pertinho do hotel Intercontinental, sem nenhum flanelinha ainda a vista. São 8:45 e daqui a 15 minutos começa o programa: perfeito, posso ir logo para o abraço, fico mais uma meia hora e volto a tempo da minha reunião as 11. Haha!
Hahaha... eu não fazia mesmo idéia...
A fila começou no meio da madrugada e agora já tem milhares de pessoas para abraçar a Amma antes de mim. Gente de todos os cantos do Brasil e da América do Sul se acotovelam pelos salões do hotel em busca de senhas que não existem mais. Os gringos voluntários de branco tentam entender a bagunça e uma futura vizinha minha sobe em cima da mesa e grita que o importante é o amor - e não o lugar na fila. Seguindo a orientação dela, minha reunião vai pro saco e meu abraço só acontece perto das 7 da noite:
Tiro os sapatos e sento-me na fila de cadeiras que indicam a concretização do darshan, que segue um fluxo que ainda não entendo e logo me distancia de meus amigos. Ao chegar mais perto, meus pensamentos mergulham em fascinantes estórias que ouvi a respeito durante uma viagem anterior pelas ilhas da Ásia ; penso no porque não vim antes, quando tive a oportunidade de participar da animada festa em Dublin, enquanto admirava as fadas de Findhorn ; imagino até quanto tempo ainda tenho para permanecer imaginável antes de me tornar vítima de uma boa calamidade que me fez perder a reunião de hoje. Minha mente dispara completamente em semi-pensamentos subliminais e meu coração, obedecendo as leis do corpo que usamos, dispara também. Indivíduos desconhecidos pegam nos meus braços e sou ajoelhado enquanto mãos percorrem minhas costas e meu pescoço e raspam minha testa a procura de qualquer suor carioca. Sinto um cheiro delicioso entre tantas mãos que me empurram e me fazem atropelar os pés a minha frente, mas logo o escuro e agitado salão torna-se todo branco e angelical - tento estabelecer uma conexão quando de repente percebo que tenho uma balinha de banana na mão: eu já havia abraçado a Amma.
Permaneço do lado direito do salão abrindo lentamente minha balinha e tudo o que consigo pensar é: preciso receber outro abraço.
INT . AMRITAPURI - NOITE
Guardo o papel da balinha no bolso e não contenho o sorriso. Meu darshan foi lindo e estou certo agora que cheguei aonde o fluxo queria me trazer. A comemoração do aniversário de 55 anos da Amma será só daqui a dois dias, mas sinto que já vivenciei o momento pelo qual vim tão rápido. Ou melhor, que já comecei a vivenciar.
Milhares de pessoas vieram comemorar o aniversário e todos receberam um abraço. Amma subiu no palco as 9 horas da manhã de sábado e só desceu as 9 horas da manhã de domingo. Foram 3 horas de eventos oficiais com diferentes personalidades públicas indianas e 21 horas de abraços, mais de 10 mil pessoas. Nada que exija muito esforço para quem já chegou a abraçar mais de 50 mil pessoas de uma única vez...
Eu estava lá no começo dos eventos, quando todos estavam sorridentes e bem dispostos. Tive um longo dia cheio de diferentes atividades, fui dormir e voltei ao evento 24 horas depois. Todos aparentavam bastante cansaço e tinham os olhos vermelhos. Todos menos Amma, que continuava a abraçar desconhecidos com a mesma disposição, carinho e atenção de 21 horas atrás. Presenciar o milagre de um ser humano que não precisa comer ou dormir é transformador.
Podemos ler a biografia da Amma e tomar conhecimento de diversos milagres que ocorreram na trajetória de sua vida, muitos deles similares aos de Jesus. Podemos aprender que Amma é um avatar, a encarnação de uma consciência tão elevada quanto Krishna. Podemos ouvir o testemunho pessoal de milhares de pessoas que experimentaram momentos divinos na presença da Amma. E nossas mentes então provavelmente nos permitirão um olhar mais atento sobre quem ela é e qual o seu trabalho.
Mas geralmente não percebemos que nossas mentes não conseguem compreender que os maiores milagres de nossas vidas acontecem todos os dias na frente de nossos olhos. Que o maior milagre da Amma não foi a transformação de água em leite ou sua ressurreição, mas é cada abraço dado a um desconhecido - milhares por dia.
Amma viaja por todo o mundo, todos os anos. Oportunidades para abraçá-la não faltam e mais informações podem ser adquiridas em seus websites:
http://www.ammabrasil.org/
http://www.amma.org/
http://www.amritapuri.org/
"Precisamos neste momento de uma revolução. Mas não uma revolução mundana, a necessidade que temos hoje é de uma revolução espiritual." - Amma
OM AMRITESHWARYAI NAMAH
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